O mercado reage de forma controversa à implementação da redução do Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA), de 14 para 5,0 por cento sobre os bens de amplo consumo que entrou em vigor no primeiro dia do ano, com consumidores a não saberem distinguir se a diminuição dos preços é devida ao fim da Quadra Festiva, época em que, em Angola, o comércio eleva os preços, ou se é devido ao corte da taxa do IVA.
A reportagem percorreu estabelecimentos comerciais de Luanda, onde conversou com intervenientes vendedores e consumidores, como a dona de uma pequena loja de bens alimentares Filomena Miguel que, também percorria os armazéns do mercado dos Congolenses, disse esperar que a redução do imposto ajude a baixar os preços no circuito comercial, com impacto na oferta de bens da cesta básica da rede retalhista.
Desde o mês de Setembro, afirmou, comprava o saco de arroz de 50 quilos a 22 mil kwanzas, para vender o quilo a 1.350, ganhando sete mil kwanzas, mas, no dia um de Janeiro, já comprou a 19 mil e baixou o preço da sua oferta para 1.150 kwanzas, reduzindo, também, os preços do óleo vegetal, sal e açúcar.
A nossa reportagem encontrou, em armazéns de venda a grosso, no Rangel, onde é vulgar a associação de consumidores na compra de bens alimentares, no que é conhecido por "sócia", o saco de arroz de 50 quilos a ser vendido para 18.700 (contra os 20 anteriores a um de Janeiro, o saco de 20 quilos de açúcar, que antes era 22 mil kwanzas, a 20.650, sendo que o custo da metade destes dois produtos desceu para nove e 7.600 kwanzas.
"Hoje, é mais viável comprar os produtos da cesta básica ao meio, como forma de economizar para cobrir todas as necessidades de casa", afirmou a consumidora Bela Neves, que, equivocadamente, acredita que o impacto da redução do IVA será apenas benéfico para as empresas e não para os consumidores.
Bela Neves não consegue discernir se a pequena baixa dos preços dos produtos nas lojas e armazéns já é devidaà implementação do IVA ou se à estabilização ou ajuste técnico posterior à Quadra Festiva, visto que, durante os meses de Novembro e Dezembro, os preços tinha subido de forma assinalável tanto nos mercados formal, quanto no informal.
Bonifácio dos Santos, dono do "Bar da Cuca", no Rangel, notou, enquanto comprava frescos em grandes quantidades, que o rolo de febras, que até Dezembro era comprado a 18 mil kwanzas a INALC, já valia 15.800 no sábado, o que considerou ser uma evidência do efeito da redução do IVA sobre os preços de consumo.
Acrescentou que os últimos dois meses foram de grandes dificuldades para si e os clientes que frequentam o bar, dada a elevação dos preços. "Todos nós esperamos que esta acção do Governo venha conseguir levantar novamente a nossa economia, disse", disse.
Georgina Frederico, de 34 anos de idade, considerou que o IVA a 14 por cento corroía as economias das famílias angolanas, lembrando que, há, já, bastante tempo, não levava um frango para casa, mas voltou a ter esperança de fazê-lo desde o dia que soube, pelo Telejornal da TPA, que a redução entrou em vigor.
Esta consumidora manifestou expectativas de que a redução do IVA traga mudanças, pois a cada dia que se sai à rua, depara-se com o impacto da "subida absurda" dos preços até ao ponto de os empresários estarem a encerrar as empresas, por falta de valores para as aquisições".
Celso Manuel, 30 anos de idade, acredita que se o IVA fosse cinco por cento há muito tempo, não haveria tanta dificuldade e a vida seria mais estável para todos e que a governação "tem bons planos para um futuro melhor".
"Está é uma medida que, de certeza, vai levantar a economia angolana, pois com 10 mil kwanzas não se pode comprar refeições para uma semana para uma família de três membros, todos queremos que a baixa dos preços ajude a manter as famílias alimentadas", disse.
Taxista de profissão, gostaria de ver a redução do IVA alargada aos preços das viaturas e das peças, pois a aquisição dos meios de trabalho na sua área é difícil e muitos são os seus colegas que estão em casa por falta de uma viatura por pequenas avarias.
"Com esta redução, esperamos que haja abertura para criação de negócios. Pedimos que o Governo crie condições, pois existem, no país, pessoas capacitadas", propôs Celso Manuel.
Valdemiro Kilulo recordou que a redução do IVA abarca 20 categorias produtos de maior consumo, como óleo alimentar, arroz, açúcar, leite, carnes, entre outras, e muitos cidadãos não estão devidamente informados desta realidade.
"Entendo que o Governo tem vindo a adoptar uma série de medidas para aliviar o sufoco económico e social que a maioria da população atravessa, mas a redução do imposto de 14 a 5 por cento, não vai ajudar os que têm um salário de 30 a 40 mil kwanzas, em todo o caso, apoiamos a iniciativa", disse.