O mercado procura saber se a cessão da gestão da rede de hiper e supermercados Kero ao grupo eritreu Anseba, na quarta-feira anunciada pelo IGAPE, vai-se reflectir na melhoria do acesso das populações aos bens de primeira necessidade e se os padrões angolanos de consumo vão-se manter naqueles estabelecimentos, de acordo com opiniões obtidas de representantes do sector empresarial.
A capacidade para honrar as cláusulas financeiras do contrato, no actual contexto da económica, a segmentação da rede antes projectada para servir a classe média e a categoria dos produtos que, doravante, serão comercializados nos estabelecimentos constituem das questões levantadas pelos nossos interlocutores, quando instados a comentar a decisão do Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE).
O presidente da Associação das Indústrias de Panificação e Pasteleira de Angola (AIPPA), Gilberto Simão, manifestou-se convencido de que a nova gestão vai implementar uma gestão virada para a satisfação dos seus clientes, de modo a se manter no mercado nacional, algo que só pode acontecer caso primar pela oferta de produtos e serviços de qualidade.
O processo de alienação, na opinião de Gilberto Simão, decorreu com toda a normalidade, mas não contou com a participação de muitas empresas nacionais porque, na sua maioria, estão desprovidas de recursos, ao contrário das excelentes condições do grupo que recebeu a adjudicação para explorar os activos da rede.
Também presidente da Associação dos Empresários do Cuanza-Norte (AECN), Gilberto Simão considera as privatizações "uma boa medida económica” tomada pelo Executivo, mas defende a implementação de políticas que visem potenciar os nacionais de forma a concorrer em igualdade de circunstâncias com empresas "ligadas a multinacionais e cartéis detentores de alguns monopólios”.
"Não existe qualquer sentimento xenófobo. Todavia, é necessário termos em atenção que os nossos empresários também têm capacidade para fazer uma gestão eficiente de vários outros activos, mas vêem-se de mãos atadas devido à descapitalização que enfrentam”, frisou o líder empresarial.
Mecanismos para obtenção de créditos com taxas de juro mais atractivas, na óptica de Gilberto Simão, ajudariam a equilibrar esta situação, de modo a evitar que a economia nacional seja controlada por empresas estrangeiras.