Vários cidadãos angolanos na diáspora, particularmente em Portugal, continuam exemplos de sucesso e de orgulho para Angola. Daí manterem referências obrigatórias face às suas realizações.
Desta vez, a Voz da Diáspora trouxe Olavo Silva Ferreira, angolano a construir pontes no Porto (Portugal), carregando consigo, aos 42 anos, uma trajectória marcada por resiliência, compromisso comunitário e paixão declarada pela economia circular.
Natural de Luanda, zona da Ingombota, filho de uma economista e um sindicalista – raízes que desde cedo o aproximaram aos temas sociais e económicos. Depois de concluir o ensino secundário em Cuba, Olavo regressou a Angola, onde se dedicou à música durante alguns anos. No entanto, uma crise económica profunda, em 2017, levou-o a encerrar o negócio de câmbios de que era sócio.“Foi isso que me levou a estudar. No meio de uma crise está a oportunidade e vi o futuro de voltar à vida académica”, conta.
Determinado a investir na formação académica, partiu para Portugal, estabelecendo-se no distrito do Porto. Licenciou-se em Gestão Financeira e Fiscal pela Escola Superior de Negócios e concluiu um mestrado em Gestão de Projectos na mesma instituição.
Actualmente, está a terminar o segundo mestrado em Economia e Gestão do Ambiente, na Faculdade de Economia do Porto, onde também se destaca como o primeiro africano a integrar o Comité de Sustentabilidade. É ainda membro da Ordem dos Economistas de Portugal.
O seu sentido altruísta, em função da marca de solidariedade e humanismo que carrega, transformaram-no num homem resiliente e determinado, levando-o a construir “pontes” em prol do bem-estar da comunidade angolana no Porto (Portugal), criando laços angolanos neste distrito.
Por exemplo, ao aperceber -se da ausência de uma representação estruturada da comunidade angolana no mesmo distrito, Olavo fundou o projecto “Laços Angolanos no Porto (LAP)”.
“Sentimos a necessidade de fazer algo em prol do bem comum”, explica o concidadão, para quem a associação visa facilitar a integração de emigrantes angolanos que escolhem o Porto para viver, através de serviços de apoio, informação, regularização documental , o maior desafio, e capacitação.
Segundo Olavo, a regularização documental é o maior desafio enfrentado pela comunidade. “São pessoas que estudam, trabalham, cumprem os seus deveres, mas, se não estiverem regulamentadas, ficam privadas de certos direitos. Isso é injusto. E é para isso que existimos: para combater o risco de exclusão”, refere sem rodeios.
No primeiro semestre de 2024, o LAP apoiou mais de 621 indivíduos. A expectativa é que este número triplique no ano em curso (2025), devido ao crescimento exponencial da comunidade e ao fortalecimento de parcerias com entidades como a AIMA, o Consulado Geral de Angola no Porto e outras instituições públicas e privadas. Inconformado, prossegue a promoção de outros projectos, entre os quais se destaca o torneio de futebol CPLP 50, integrado nas comemorações dos 50 anos da Independência de Angola, com participação alargada aos PALOP. Outro projecto de destaque é o documentário “Vidas em Trânsito”, uma produção cinematográfica que visa combater a desinformação e contará com testemunhos de angolanos em mobilidade. A estreia está prevista para 11 de Novem- bro de 2026 e será exibida em salas de cinema em Portugal, Angola, Brasil e nos restantes países da CPLP.
Entre a Comunidade e a Sustentabilidade
Olavo também actua como consultor de economia verde, auxiliando empresas públicas e privadas na adopção de práticas circulares. Embora consiga suprir as suas necessidades em Portugal, admite que “é difícil fazer poupança” no contexto actual.
Bem integrado na realidade nortenha de Portugal, elogia a simpatia e educação dos portuenses, embora confesse sentir falta do clima quente de Angola. Igualmente, participa de forma activa em eventos da comunidade, muitos dos quais são organizados pelo próprio LAP, em colaboração com o Consulado Geral de Angola no Porto, câmaras municipais e outras associações.
Mesmo à distância, Olavo acompanha de perto a realidade angolana através de redes sociais, jornais e podcasts. Sobre o futuro do país, é directo: “O que mais gostaria de ver mudado no nosso país é a mentalidade. Precisamos de uma mentalidade de longo prazo. Angola é nossa, e aquilo que é nosso, nós cuidamos.”