O Presidente da República Federativa do Brasil defendeu, neste domingo, na abertura da 17.ª Cimeira dos BRICS, a transformação “profunda” do Conselho de Segurança da ONU, com vista a torná-lo mais legítimo, representativo, eficaz, democrático e inclusivo.
Na sequência, o Estadista brasileiro apelou à inclusão de novos membros permanentes da Ásia, África, América Latina e do Caribe. “É mais do que uma questão de justiça. É garantir a própria sobrevivência da ONU”, acentuou Lula da Silva.
Para o Presidente anfitrião da Cimeira, adiar este processo torna o mundo mais instável e perigoso. “Cada dia que passamos com uma estrutura internacional arcaica e excludente é um dia perdido para solucionar as graves crises que assolam a humanidade”, alertou.
Ao recordar o 80.º aniversário da Organização das Nações Unidas, assinalados no último dia 26 de Junho, Luís Inácio Lula da Silva sublinhou que o mundo presencia o colapso sem paralelo do multilateralismo, e que o advento da ONU marcou a derrota do neofascismo e o nascimento de uma esperança colectiva.
Como exemplo, mencionou o papel central da Organização no processo de descolonização, a proibição do uso de armas biológicas e químicas. “São exemplos do que o compromisso com o multilateralismo pode permitir alcançar.
O sucesso das missões da ONU, como a que teve lugar em Timor-Leste, demonstra que é possível promover a paz e a estabilidade”, realçou. No evento que decorre no Rio de Janeiro, Brasil, sob o tema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança Inclusiva e Sustentável”, o Estadista reconheceu que apesar dos inúmeros desafios, nas oito décadas de funcionamento das Nações Unidas “nem tudo foi um fracasso”,
A grande maioria dos países que hoje integra os BRICS foi membro fundador. Dez anos depois, a Conferência de Bandoung refutou a divisão do mundo em zonas de influência e avançou na luta por uma ordem internacional multipolar.
“Os BRICS são herdeiros do Movimento dos Não-Alinhados. Com o multilateralismo sob ataque, a nossa autonomia está novamente em xeque e avanços arduamente conquistados, como o regime de clima e o comércio, estão ameaçados”, disse.
Acrescentou que na esteira da pior crise sanitária em décadas, “o sistema de saúde global é alvo de investidas sem precedentes, nas quais as exigências absurdas sobre propriedade intelectual restringem, ainda, o acesso a medicamentos”, declarou.
A presidir os BRICS, Lula da Silva salientou que o Direito Internacional se tornou letra morta, juntamente com a solução pacífica de controvérsias. O mundo se confronta com um número inédito de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial.
O Chefe de Estado do Brasil disse também que a recente decisão da OTAN alimenta a corrida armamentista. “É mais fácil destinar cinco por cento do PIB para gastos militares do que alocar 0,7 por cento prometido para a assistência oficial ao desenvolvimento.
Isso evidencia que os recursos para implementar a agenda 2030 existem, mas não estão disponíveis por falta de prioridade política. É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz”, lamentou.
No seu discurso, o Presidente do Brasil afirmou que “as reuniões do Conselho de Segurança da ONU reproduzem um enredo, cujo desfecho todos conhecem: perda de credibilidade e paralisia”.